sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A nova geração e a inércia

   Que vivemos numa época de avanços tecnológicos e de facilitismos todos sabemos. Que apesar da "crise" o consumo de futilidades continua em alta e os i-devices esgotam em horas também o sabemos.
   Mas será que sabemos que andamos a criar perfeitos anormais?
   Há alturas em agradeço não ter filhos, pois os pobres seriam como os pais uns bichos muito estranhos aos olhos da sociedade e isso nunca é fácil.
  Não acho de todo normal que não haja um estimulo à acção, uma tomada de iniciativa, uma associação para uma qualquer brincadeira ou traquinice.
   Não...As crianças de hoje em dia são uns perfeitos Zoombies, dopados com excesso de açúcar, mimados em excesso e sem desejarem nada, porque basta abrir a boca e tudo lhes é entregue de bandeja.
   Neste Halloween, e bem sei que não é tradição nossa, decidi comprar uns doces extra lá para casa, na vã esperança que me tocassem à campainha para um "Doce ou Travessura". Disseram-me que era louca, que não havia essa tradição e eu pensava "pode não ser tradição mas de certeza que pimpolhos ávidos por doces vão tomar a iniciativa, unir-se e brincar um pouco mesmo que seja apenas no seu próprio prédio".
  Algumas horas depois fui recompensada, existe realmente iniciativa entre as gerações mais novas....gerações mais novas e de classes sociais baixas.
   Sim, crianças do bairro social vizinho tiveram direito a todos os meus doces enquanto que os restantes ficaram a chuchar no dedo.
   Volto a repetir, andamos a criar anormais sem iniciativa, sem ambição crianças que tendo tudo não desejam nada e nunca saberão , no futuro, conviver com a insatisfação de não atingir os seus desejos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Atum e a aventura da pobreza de espiríto - Parte II

    A garagem estava repleta, mas faltava algo.
   Não! Não era o carro, esse poderia viver na rua durante meses, anos, até para o resto da vida. Faltava algo e por muito que fizesse não conseguia satisfazer a sua necessidade de mais e mais.
  Passaram-se dias e foi ao correio,e como que iluminada pelas luzes de deus e dos anjos lá estava uma publicidade daquele hipermercado germânico de preços fenomenais.
   Leve 2 pelo preço de 1.......Era isso que faltava!
Como não tinha pensado nisso antes, o que faltava eram mais latas de atum. No dia seguinte voou para o hipermercado, queria ser o 1º da fila. Comprou, comprou, comprou até se ver limitado pelas unidades por pessoa...malditas imposições comerciais. 
Ficou feliz e satisfeito.....durante uns dias, a compulsão, vicio , necessidade de mais e mais atum continua.
   A garagem continua  cheia.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

"Encontravam-se duas ou três vezes por semana, e nunca nas férias, e nunca nos fins-de-semana. O tempo que passavam juntos, ambos o roubavam à família e ao trabalho.
 Nas tardes de Janeiro ou de Fevereiro, quando os dias se vão tornando mais compridos e o sol irradia, já do poente, beijavam-se à sombra das pontes.
 Os seus refúgios mudavam frequentemente.
 No carro.
 No bosque.
 No bosque cruzamo-nos com pessoas que nos reconhecem.
 Restavam os quartos. O mesmo várias vezes seguidas. Ou outros, consoante o acaso.
 Há estranhas amenidades na ténue iluminação dos quartos de hotel; o luxo modesto do vasto leito, tem os seus encantos.
 E chega a altura em que já não podemos separar o ruído das palavras e dos suspiros e o contínuo zunido dos motores e o chiar dos pneus que sobem a rua.
 Durante anos a fio, estas pausas furtivas, na trégua que se segue.....
 De pernas emaranhadas e braços esticados...
 Eles não tinham noite comum.
 Urgia, de repente, a esta ou àquela hora de antemão fixada - o relógio não sai do pulso - voltar a partir.
 Urgia, cada qual reencontrar a sua rua, a sua casa, o seu quarto, o seu leito de todos os dias, reencontrar aqueles a quem os ligava uma outra maneira de inexpiável amor, aqueles a quem o acaso, a juventude ou eles próprios se tinham dado de uma vez para sempre, e que ninguém pode abandonar nem ferir quando está no cerne das suas vidas.

 (...)

 Os obstáculos de cada dia, de cada semana bastavam-lhes para se atormentarem, num permanente receio de que o outro houvesse mudado. Não exigiam a felicidade, mas tendo-se reconhecido uma vez, pediam a tremer que aquilo durasse, meu Deus, que aquilo durasse... que, de súbito, um dos dois não surgisse estranho ao outro..."



 Pauline Reáge in Regresso a Roissy

sábado, 15 de setembro de 2012

Pérolas do planeamento urbanistico


Pelos caminhos de Portugal encontram-se pérolas do planeamento urbanístico. Este fica em Gumiei, Viseu.

Ainda dizem que não há empreendedores em Portugal ;)

Aqui está um bom exemplo de se queremos algo temos de ser nós a tratar do assunto. Ninguém ouviu esta senhora a reclamar da falta de lugar num transporte público em hora de ponta?
Se queres um lugar sentado, leva a tua própria cadeira ;).
Perfeito.

Claro que ouviu risadas e piadinhas a viajem toda, mas pelo menos ouviu-as bem instalada e confortável.

Prova que não és um robot


Serei só eu a odiar estas pequenas coisas que me fazem perder tempo e ficar frustrada? A sério...este exemplo até é dos mais fáceis que já vi, mas muitas vezes a qualidade de imagem e a pressa que temos em aceder às nossas aplicações torna-se uma missão impossível.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

   Não sei porque me continuo a impressionar com a capacidade que as pessoas têm de mentir para mostrar aos outros o quanto a sua vida é perfeita.
  Será que não vêm que ao enganar os outros se enganam a si também? A mentira não passa de um disfarce fraco para um conto de fadas que constroem para esconder a sua triste existência.
  O pior é que criam sem se aperceber uma "bola de neve" de frustação da qual vai ser muito difícil escapar.

O Atum e a aventura da pobreza de espiríto

     Começo por dizer que adoro atum de todas as formas e é algo que não dispenso na minha cozinha, mas há histórias que me ultrapassam e deixam louca.

   Esta é a aventura de um individuo que gosta de atum. Não um atum qualquer, mas aquela parte do rabo do peixe que quando enlatado é muito mais escuro e espinhoso, mas que segundo dizem os especialistas é a mais saborosa. Creio que se chama "sangacho".

   Este individuo arranjava o seu fornecimento mensal de atum numa cadeia de supermercados das mais baratas e quando este desapareceu das prateleiras foi reclamar. A resposta foi, ninguém comprava e por isso deixamos de comercializar.

   Este foi um dia negro na história do amante de "sangacho". Procurou em todas as cadeias, comércio local, lojas gourmet ( um lugar do demo na sua opinião) e a resposta era sempre a mesma...ninguém comprava deixamos de comercializar.

   Naquela noite olhou saudoso para a dispensa, já só tinha três latas de atum. Ia guardá-las para uma ocasião especial...quando de repente eis que surge brilhante qual visão religiosa um número de apoio a clientes da marca de atum.

  Milagre. Milagre!

  A noite passou devagar, ouviu cada tic e cada tac do relógio. Voou para o trabalho e ás 8h em ponto ligou para o bendito número.

    Eu quero, não eu preciso do vosso atum! Não encontro em lado nenhum, diga-me quem comercializa?

  A Resposta: ninguém, só vendemos para o estrangeiro, cá ninguém é apreciador desta fantástica parte do rabo do atum que quando em conserva fica escura, espinhosa e bem mais mal cheirosa... disse uma voz desolada.

   -Se me vendessem a mim eu comprava.

  -Oh que pena! Só vendemos a profissionais por que a caixa mais pequena tem 100 unidades.

   Uma semana depois chegou uma entrega especial a casa do apreciador de "sangacho". A garagem ficou cheia, ainda bem que é uma conserva e pode durar anos.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Feliz Dia Mundial Do Orgasmo

Nota: O dia mundial do Orgasmo foi informalmente criado por uma rede de Sexshops, em Inglaterra ;).

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ainda existem poetas

Finalmente sós

Antes de teres aberto o bar
antes de teres mirado o rio
eu era alguém
ás costas de outro alguém
trouxeste mais contradições
trouxeste mais opiniões
e agora sou mais outro zé ninguém

finalmente só
finalmente a sós

quando eu já estava a sossegar
quando eu já estava a adormecer
vi-te dançar e a minha paz morreu
odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só pra mim
pensei que fosses um brinquedo meu

finalmente só
finalmente a sós

Jorge Palma
O meu único conforto é saber que este mesmo oceano une os nossos dois continentes.
Mergulhar nas suas ondas faz-me sentir mais perto de ti.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

TIC,TAC...

Hoje sinto-me com raiva do mundo que me rodeia e de todas as pessoas.
Fui assolada por um qualquer virus que me bloqueia  a memória das minhas conquistas e dos meus objectivos e que apenas me deixa ver os sucessos dos outros.
Ao passar em revista as redes sociais fico raivosa de ver amigos e conhecidos a publicarem as suas fotos de casamentos, celebrações várias ou gravideses recentes.
Só me apetece gritar e mandar com o computador contra a parade.

Este virus nojento despoleta em mim uma raiva imensa, um ódio quase a estas conquistas menores que não estão nos meus planos e objectivos a curto prazo.

Será uma revolução do meu relógio biológico? Será pura maldade? Será que perdi totalmente a minha sanidade mental e descernimento.

Será que está na hora de redefinir objectivos?
Hoje é "Dia dos avós"
A cínica que há em mim dissertaria sobre o calculismo comercial desta data tão recentemente criada, mas não hoje não consigo.

Tudo o que poderia dizer vai ter de se resumir a uma imagem simples.


sábado, 14 de julho de 2012

Limpezas

Acordou com a mania das limpezas.
Levantou-se e rápida e metodicamente limpou a casa de uma ponta á outra.
Acendeu velas aromáticas e incensos para a limpeza astral.

No final ela própria precisava de uma limpeza, um mergulho no mar parecia o ideal, seguido de um pouco de meditação.

O dia passou a correr. De noite deitou-se nos lençois frescos e cheirosos e dormiu como não dormia em séculos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Momentos

A vida é feita de momentos e muitos deles até bastante insignificantes.
Pior ainda, insignificantes e com um estranho que assim permanecerá para sempre.
Hoje tive um desses momentos, numa praia praticamente deserta, num dia um pouco desagradável mas em que insisti que tinha de ir dar um mergulho.
Assim, houve aquele momento, uma gargalhada infantil e excitada no meio de ondas violentas e geladas como duas crianças que brincam na beira da água e fogem das ondas que se aproximam com aqueles típicos "guinchinhos".
Foi algo único, natural, pleno e puramente delicioso.
A gargalhada mais pura que já partilhei com alguém. Um momento único e tão genuíno como nada mais que alguma vez tenha feito.

Um momento perdido no tempo para sempre recordar.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Tenho saudades tuas... mas não te posso dizer!